sexta-feira, 2 de outubro de 2009


As paredes da Biblioteca Central d@s Estudantes ostentam imagens propagandeando o genocídio. A bandeira do Estado de Israel está hasteada no centro do prédio que abriga o “saber acadêmico”. Poderíamos interpretar estas fotografias de inúmeras formas. Da maneira como querem os seus expositores ao escolher justo a universidade, colocando no final a propaganda de uma empresa aérea israelense. Ou da maneira que está dita, de forma chocante, na contraposição das imagens de crianças loiras brincando na praia com as imagens de soldados armados, evidenciando a óbvia propaganda militarista que está exposta. Esta exposição está sendo financiada pela Fundação Jacobi (ou Jacobi Foundation) que é o braço beneficente da Jacobi Capital Corporation, uma obscura empresa que capta recursos para empreendimentos imobiliários no Leste Europeu e em Israel. Uma das missões desta empresa é justamente difundir a história de Israel, por meio de exposições. Muitas vezes, ao se falar contra o Estado de Israel, o discurso é entendido como sendo anti-semita. Muito importante, no entanto, que não se faça esta confusão. Trata-se de repúdio a uma política sistemática de Estado de invasão de territórios palestinos e genocídio em massa daquele povo. Atos dessa gravidade e, particularmente, por serem conduzidos por um ator reconhecido de relações internacionais, não podem passar despercebidos. A exposição da BCE fabrica justamente isto: invisibiliza o terror de Estado e dá um tom pacífico e acolhedor da “terra santa”. Tom que é demonstrado na maioria das fotos apesar de seu caráter militarista. Casal de militares se beijando, grupo de pessoas judeu-africanas sendo acolhidas, danças, praias, um Yasser Arafat de cara contente dando um tom de diálogo e avanços na questão palestina, a tristeza de pessoas israelenses sendo despejadas de suas casas, bandeiras e mais bandeiras de Israel. Estas são facetas que fazem parte, não só de Israel como do Oriente Médio de uma maneira mais ampla. Assim, trazer esta exposição é negligenciar que se trata de uma das regiões mais conflituosas do planeta e que o Estado de Israel tem sido mais digno de boicotes que de iniciativas que o propagandeiem. Não esqueçamos que a pressão internacional foi fato de extrema importância para o fim (pelo menos oficialmente) do Apartheid na África do Sul. Nós, estudantes, funcionárias(os) e professoras(es) nos sentimos profundamente agredidas e agredidos por este acordo entre a Universidade de Brasília e a embaixada de Israel. A nossa ofensa é proporcional ao número de mortes provocadas pelo Estado Israelense, que vem sistematicamente comprando a mídia mundial ao seu favor. Nossa universidade, que recentemente passou por um processo de democratização, não pode ser palco para propagandear o militarizado Estado de Israel e o conseqüente genocídio do povo palestino. Uma paz que seja verdadeiramente justa não se separa da luta pelo direito ao retorno de todos os refugiados às cidades e às aldeias das quais foram expulsos desde 1948. Direito inalienável que se choca com a existência de um estado fundado a partir de critérios religiosos ou “étnicos”. Uma exposição mais honesta e comprometida com a realidade de Israel deve ter espaço para tratar sobre a questão palestina e sem medo de colocar a condição de terror e perseguição por parte daquele Estado. Nesse sentido, além de trazer nosso repúdio ao espaço extremamente parcial e enviesando cedido à esta exposição, viemos também solicitar um espaço de contraponto. Um direito de resposta, por assim dizer, capaz de dar voz a uma outra faceta israelense que não pode ser ignorada. Com esta carta, pautamos o direito de resposta institucional, promovendo uma semana de visibilidade palestina com vídeos, exposição de fotos, festival de culinária e mesa redonda com pessoas estudiosas do assunto e com o grupo de refugiados da palestina que se encontra em Brasília. A programação destes eventos será concluída em breve e encaminhada para a reitoria. Contato: unbpalestina@gmail.com

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